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MANEJO PRECISO DE NEMATOIDES



AGRICULTURA 4.0


Os sistemas tradicionais de manejo das lavouras tratam as áreas de cultivo de forma homogênea tomando como referência, nos tratos culturais, as condições médias dos fatores que afetam a produtividade para a realização das ações corretivas. O recente desenvolvimento tecnológico, notadamente de máquinas, implementos e da agricultura digital traz a possibilidade de adoção de práticas de manejo em locais específicos, com maior segurança na tomada de decisão e racionalizando o uso dos insumos.


O tipo de ocorrência predominante dos nematoides no campo é na forma de reboleiras e isto constitui um dos principais sintomas da praga. A essa característica soma-se o fato de que os nematoides são pragas de baixa mobilidade no campo e, portanto, demoram safras para mostrarem os prejuízos econômicos, apresentando um significado epidemiológico do tipo tardio, ou seja, os danos perceptíveis na área podem demorar safras para serem percebidas pelos agricultores.


Dessa forma, nada seria mais lógico, para o manejo e/ou controle dos nematoides, do que o uso de táticas de precisão onde os recursos (insumos) sejam colocados apenas onde sejam necessários, com ganhos econômicos e ambientais considerados.


Para essa finalidade, estão disponíveis atualmente tecnologias que permitem o mapeamento dos nematoides nas áreas de produção, bem com a aplicação localizada ou em taxas variáveis de insumos, notadamente com foco no sulco de plantio ou da adubação, de culturas anuais como a soja, milho e algodão. A estratégia consiste em se levantar evidências que comprovem a localização dos nematoides em áreas cultivadas e que as áreas infestadas apresentem uma distribuição padrão ao longo dos ciclos de cultivo e dos manejos empregados pelos agricultores.


Para isso, são realizadas visitas no campo com o ataque de nematoides, coleta de amostras localizadas para a comprovação do problema e a demarcação das reboleiras presentes, utilizando-se imagens de satélites, drones ou mesmo dispositivos com sinal GNSS. Diversos sistemas já estão disponíveis para esse trabalho, que fornecem imagens automatizadas e permitem a locação de pontos de amostragem que interagem com e aplicativos de smartphone que direcionam a coleta a campo.


Do ponto de vista de equipamentos, existe no mercado equipamentos que são acoplados às semeadoras e que realizam a aplicação de produtos no sulco de plantio e/ou adubação, equipados com controladores eletrônicos, computador de bordo e receptor GPS. Com essa tecnologia é possível realizar a aplicação de defensivos, químico ou biológico, de forma localizada ou em taxas variáveis, de forma automática nas reboleiras. Ou seja, sem a necessidade de operação do equipamento, uma vez que o mapa programado em seu computador de bordo realiza automaticamente as variações da aplicação.


“Estão disponíveis atualmente tecnologias que permitem o mapeamento dos nematoides nas áreas de produção, bem com as aplicação localizada ou em taxas variáveis de insumo”


Ainda, após a operação, o equipamento fornece o mapa da aplicação, que é uma informação muito importante, não só para as análises econômicas e ambientais do procedimento, mas também para a avaliação da qualidade do trabalho realizado. Bem como dos resultados obtidos com o tratamento, pois o agricultor sabe exatamente onde está o problema e onde o tratamento foi realizado. Assim ele pode retornar ao local de aplicação, avaliar a eficiência e realizar ajustes para os próximos tratamentos, se forem necessários. Além disso, pode realizar o monitoramento com imagens da área e avaliar digitalmente o resultado obtido com os tratamentos realizados.


No caso do equipamento para a aplicação precisa, a evolução já está em andamento para maiores capacidades operacionais, vendas embarcadas nas semeadoras e sistemas inteligentes para a aplicação de vários produtos na mesma operação. Inclusive com a injeção direta dos produtos na ponta de aplicação (tecnologia “multicanal”).


Vale destacar que outras estratégias de manejo podem ser utilizadas desde que equipamentos específicos sejam desenvolvidos ou manejados para esse objetivo. Como exemplo, o desenvolvimento de semeadoras que realizam a semeadura de diferentes cultivares ou espécies de plantas. Assim, desde que respeitado os ciclos equivalentes das cultivares/culturas, pode-se realizar a semeadura de forma localizada nas reboleiras de um genótipo resistente ou mais tolerante ao nematoide chave, ou mesmo de um adubo verde ou cultura de cobertura. Outro exemplo, numa opção e mais direta, seria simplesmente a economia de sementes, fertilizantes e outros insumos nas reboleiras onde sabidamente não se irá produzir.


Esta estratégia de manejo se aplica a qualquer praga que ocorra de forma localizada no campo. Neste sentido e dentre os problemas fitossanitários das culturas, as plantas daninhas são as que apresentam mais esta característica e, portanto, oferecem as maiores possibilidades de manejos localizados, seguidas dos nematoides, dos insetos e, por último, das doenças.


Fonte: Revista A Granja – Total Agro – Dezembro/2022 nº888 Ano 78


Carlos Eduardo de M. Otoboni

Professor da Fatec e Pesquisador do Laboratório de Monitoramento e Proteção de Plantas – LMPP

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